sábado, novembro 05, 2011

e pluribus unum

 O ano passado (10/Nov/2010), durante uma visita a Jacarta, o Presidente Obama afirmou:
«Creio que a história da América e Indonésia nos deve dar esperança. É uma história escrita nos nossos motes nacionais. Nos Estados Unidos, o nosso mote é E pluribus unum – de todos, um. [Na Indonésia, o mote é] Bhinneka Tunggal Ika – unidade na diversidade.» (ver)
Obama porém não referiu o mote oficial dos EUA. Não por estar a pensar no mote dessa grande nação de história gloriosa que é o Benfica.

O mote surge efectivamente no selo oficial dos EUA, aprovado em 1782 por um acto do Congresso, juntamente com duas outras frasesno verso do selo: Annuit cœptis – aprova o nosso empreendimento – e Novus ordo seclorum – nova ordem das eras–.


Mas a frase E pluribus unum nunca foi formalmente estabelecida em lei como mote oficial, deixando um buraco em termos de definição legislativa (tal como a determinação da língua oficial). Só em 1956 é que o Congresso aprovou um acto (HJR 396) declarando o mote oficial dos EUA como ... Em Deus Confiamos (In God We Trust) – mote tão apropriado para um estado laico – mote que o Congresso já em 1864 havia escolhido para surgir nas moedas.

Porque a escolha desta frase para mote oficial? Em 1956, os Democratas haviam ganho lugares no Congresso com custos para a influência da Coligação Conservadora. O Presidente Eisenhower, Republicano e a direita no Congresso terá procurado agradar a sua base eleitoral para reverter a tendência de ascensão Democrata e os rescaldo negativo da marca de Joseph McCarthy. (Nas eleições de 1958, Eisenhower foi re-eleito, mas os Democratas ganharam terreno no Congresso.)

O fervor religioso nos EUA continua implacável. Um ano depois da falta de preciosismo de Obama face ao mote dos EUA, os Republicanos no Congresso dos EUA dedicaram tempo a reiterar que In God We Trust é o mote oficial. Tal não havia sido posto em causa. Não houve qualquer proposta alternativa. Mero jogo político. A resolução para, como brincou Jon Stewart, reafirmar os votos conjugais entre os EUA e Deus foi aprovada por unanimidade. Obama reagiu condenando a perda de tempo do Congresso num período de crise (ver).

Por curiosidade, E pluribus unum não provém de uma obra clássica em Latin em que um general apela à unidade de múltiplos povos na véspera de uma batalha do Império Romano. Na verdade provém de uma receita para salada incluída no texto Moretum (ervas de jardim), atribuído a Virgílio (ver):
It manus in gyrum; paullatim singula vires
Deperdunt proprias; color est E pluribus unus.
Numa pobre tradução minha:
Girando a mão que mistura, por degraus cada parte
perde a força própria, e de todos as cores reina uma.

2 comentários:

hilda dada disse...

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Ricardo Santana disse...

Parabéns pelo blog, um lugar muito rico, gostei bastante daqui.

José Ricardo
IFPE- Campus Recife
http://terramundomeu.blogspot.com/